A
cidade baseada em planos, e um plano para Natal/RN
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Natal começou entre disputas, com
planos entre portugueses e holandeses, com planos para o comercio e o transporte
marítimo. Depois chegaram os franceses e os italianos com aviões e seus planos
de voos, interligando os continentes. Assim contam suas histórias, mas podem
ter chegado como náufragos, à deriva ou perdidos. E desembarcaram suas bagagens
e experiências, deixaram uma genética, que ainda circula nas veias.
E instalaram-se ali os americanos
com seus novos planos de voos, em Parnamirim Feeld. Numeraram ruas e avenidas
para não se perderem, ao retornar para a caserna. Agora com planos
internacionais empresas aéreas internacionais, anunciam a necessidade e a
urgência de um HUB, exigindo ou cobrando incentivos. A eterna exploração do que
é produzido. Madeira para construção e lenha, e até o QAV, o combustível na
nova navegação; portos e aeroportos, para receber suas naves.
Mas voando e navegando, não
enxergaram problemas no solo, o lugar onde se pisa. Os problemas de quem pisa e
vive no solo, onde é mais comum as areias em forma de dunas alteradas com os
ventos. E a genética continua correndo pelas veias, dos novos feitores. De
capitão dos mato, chegaram a capitão urbano.
Com planos estaduais anunciam
um plano de uma cidade 100% saneada, no caso a capital, esquecendo, ou não
pesquisando, que Belo Horizonte/MG e Curitiba/PR, já estão muitos anos na
frente. Uma capital cercada por outros municípios e pelo mar, onde jogará seus
resíduos? Onde fará coleta de novas águas? A igreja com um plano ecumênico,
está se articulando para cobrar o saneamento; com agua potável e agua servida.
Obras subterrâneas que
administradores públicos não gostam, já que não dá para fazer marketing no
presente e merchandising, em momentos futuros. Bem diferente de praças e
parques, pontes e viadutos. Carlos Eduardo, em Natal, colocou um monumento de Niemeyer
em cima de um morro, para ver toda a cidade, e para que a cidade o veja. Mas de
tão alto o monumento, não é possível avistar os problemas que acontecem em
baixo. Fora o seu gabinete enclausurado, carro com película redutora de
luminosidade (insulfilm) e ar condicionado. Reduzindo sua capacidade de
enxergar a realidade, não enxerga a cidade.
O prefeito da cidade de Natal ou do Natal, onde
já começa uma indefinição, uma disputa ortográfica, anuncia para 2036 a
concretização da mobilidade urbana. Depois de inúmeras consultas públicas para
conhecer os problemas urbanos, que a prefeitura desconhece, traça planos para
um futuro melhor, um futuro calculado em pelo menos vinte anos, fora as
intercorrências. Os acidentes de percurso, comuns na engenharia e até na
medicina. A cidade sendo planejada para seus netos, andarem livres, com pistas
de caminhadas e ciclovias. Talvez digam um dia, foi voinho quem fez.
Um tiro no pé, o anuncio da
mobilidade com acessibilidade, baseado em uma insensibilidade urbana. Com um
tiro no pé fica-se imobilizado, e alguns engessam ou andam mancando, com
bengalas e muletas, até que faça efeito o tempo e a fisioterapia. E além do
transito dificultado, os congestionamentos respiratórios. Fatores que levam a
comprometimentos futuros.
Com o plano de mobilidade
natalense, ainda não se decidiu o que fazer com cavalos, jegues e carroças,
disputando espaço em vias e canaletas urbanas. A cidade é um organismo vivo,
com vias circulatórias e ventilatórias, alimentando e oxigenando as suas
células. Do contrário, as células urbanas crescem modificadas, ou alteradas,
constituindo um câncer. Nem o ser vivo, nem a cidade podem parar de se
alimentar e respirar, no combate ao câncer, ainda que usem medidas radicais,
com leis e regras audaciosas, quimioterapia e radioterapia. E um prefeito é
apenas uma célula, em condição privilegiada, com direitos especiais. Não é um
cérebro de uma cidade, o corpo e a cidade são holísticos. Não detém um
conhecimento, já que não conhece a cidade.
Carlos Eduardo baseado em
percentuais estatísticos, anuncia com efusão o alto percentual urbano, nas
cidades brasileiras, para justificar seus audaciosos planos. Tirou da cartola
os dados informativos do IBGE. E julga ser um momento histórico fazer e
planejar fazer, o que já deveria estar pronto e funcionando. O transito é o
câncer que evolui para a morte, por asfixia urbana. A cidade ultrapassa as
análises percentuais e estatísticas.
Carlos Eduardo já declarou em
outro momento, o quanto é difícil brigar com capitais financeiros. O quanto a
prefeitura tem dificuldades em embargar obras, principalmente as da orla. Em
contrapartida, deverá haver dificuldades em executar desapropriações, caso
sejam necessárias. Fora as exclusões dos carros que ocupam as calçadas, e que
poderão ter suas pistas reduzidas. E os automobilistas questionarão seus
direitos de ir e vir. Ainda que o direito esteja vinculado ao cidadão, e não
contempla seus veículos.
Mas ainda faltam a lentidão do
processo burocrático e do poder legislativo. Ainda faltam as queimas de
neurônios dos engenheiros e dos planos estatísticos. O código de obras e o
desenho funcional e artístico. Para não criar poluição urbana e visual. O que é
possível fazer, e que se torna impossível constituir, nos pontos de vistas
daqueles que se escondem atrás dos espelhos e de insulfilmes. As brigas entre
lobbys; brigas entre o poder legislativo e o administrativo, com recursos do
judiciário. O corte de verbas e os atrasos nas parcelas. E os imprevistos não
previstos.
Com uma coleta de dados, com a
pesquisa nas bases. A experiência vivida pelos artistas. Ficam aqui algumas
umas sugestões ao prefeito, para sentir a cidade viva: andar de bicicleta,
caminhar a pé, entre as quadras, procurando uma calçada; atravessando na faixa,
como bom cidadão, mas não confiando nos carros que passam zunindo,
desrespeitando o cidadão e as faixas. Não incomodar os amarelinhos ocupados em
chamadas de rádio e telefone, mas fazem pose para uma foto. Utilizar ônibus,
preferencialmente nas denominadas horas do rush. Participar junto com
cadeirantes, em um passeio pelas calçadas, ainda que utilize uma cadeira
motorizada. Mas usando uma máscara, usando a cidade como um anônimo. Para não
haver benefícios, ou situações preferenciais.
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